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As identidades assassinas

Esta semana, mais uma vez , temos a lamentar o assassinato de um adepto de um determinado  clube de futebol,  por um adepto de um clube rival, como resultado de uma discussão sobre esse desporto.

Desde que estivemos em missão no Iraque, que temos refletido sobre a construção de identidades, à primeira vista um tema  inóquo, mas que é de primordial importância na atualidade e na construção da paz Mundial.

No Bilhete de Identidade dos cidadãos. Iraquianos constavam obrigatoriamente  os dados relativos à família, à tribo, e à religião , para além dos dados normalmente exigidos nos Bilhetes de Identidade da maioria dos países, nomeadamente da filiação, idade e local de nascimento.

O facto de no BI constarem esses elementos diferenciadores era um factor potenciador de ódios e de conflitos entre os Iraquianos, pois  as identidades de determinados grupos, foram historicamente forjadas no ódio umas às outras. A título de exemplo podemos afirmar que o ódio visceral existente  entre as duas fações do Islão, Xiitas e Sunitas  tem sido um dos factores geradores de ódio e de guerras intestinas entre si , desde a sua génese até à atualidade.

A título de exemplo em Portugal a reconquista cristã, exacerbou o ódio em relação  aos mouros, por serem de outra etnia e  religião, e a eterna disputa  pela independência do país  em relação a Castela,  forjaram a nossa identidade como nação e estado, factos que só por via da racionalidade e da educação pode ser combatida.

Os Clubes de futebol, na Europa,  são também um factor identitário importante  de determinadas pessoas, que neles se revêem e identificam. Se a identidade dos clubes, a sua mística  se forja erradamente no ódio aos seus rivais, e não no respeito pelo adversário, assassinatos como o que referi no início desta crónica, têm tendência a ciclicamente se repetirem.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva

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