Geral Opinião

Costa, o vendedor de sonhos e ilusões

O que pode Costa dar à Ucrânia, no seu périplo por Kiev, é pouco mais do que solidariedade internacional e apoio nas pretensões da Ucrânia, em entrar na UE, muito embora não já como Estado-membro desta união política, mas como membro duma comunidade econômica, com caraterísticas semelhantes à união Pré-Maastricht, com todos os benefícios que esta trazia para o desenvolvimento económico dos estados.

Estive muitos anos a trabalhar no Planeamento de Forças da UE, desenvolvimento de capacidades militares, e pude constatar a dificuldade que existe em estabelecer consensos, e quão mais difícil se tornou quando integrámos o grupo de Visegrado, com Estados-membros com regimes iliberais, que tudo bloqueiam, pois querem pertencer à UE nas coisas boas que esta tem, mas não se querem sujeitar às regras do clube, eleições livres, auditadas internacionalmente, imprensa livre e sujeição ao primado do direito europeu, daí a necessidade de ter cautela no alargamento de novos Estados-membros.

Em termos de acordos bilaterais, em termos militares pouco podemos dar, porque muito pouco temos, dado o desinvestimento nessa área após a saída de Paulo Portas, pois houve investimentos nos submarinos, no procurement de um novo avião de transporte tático, que está em fase de testes na empresa Embraer, bem como a aquisição de cerca de quatrocentas viaturas Pandur, que equipam o nosso exército.

Em minha opinião, Costa devia aproveitar para negociar, como compensação dos nossos esforços, contratos de reconstrução com empresas portuguesas.

Costa está, pessoalmente com esta guerra, a aproveitar para aparecer como um grande líder europeu, tendo no dia da Europa, sido um dos poucos chefes de governo, que se pavoneou pelos corredores do Parlamento Europeu, só para ser visto ao lado de Úrsula Vanderleyen e do Presidente Macron, pelo que a proposta da entrada da Ucrânia numa espécie de CEE, pode ser uma boa contribuição pragmática para apoiar a Ucrânia, sem comprometer, ainda mais, o seu mecanismo anacrónico de tomada de decisão por unanimidade, entre todos os Estados-membros.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma