Artigo de opinião de Francisco Carrilho, presidente da Direção da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo
O tratamento da diabetes é um desafio permanente no sentido de se conseguir que os diabéticos tenham um melhor controlo da glicemia e não desenvolvam as conhecidas e temidas complicações secundárias da doença.
No tratamento da diabetes tipo 1 dispomos hoje de um conjunto alargado e diversificado de insulinas que possibilitam um melhor tratamento. O desenvolvimento tecnológico das insulinas tem sido no sentido de as insulinas de ação curta terem um perfil mais rápido de início de ação e de as insulinas de ação prolongadas passarem a ter uma ação mais longa, sem picos e mais estáveis.
Para os diabéticos tipo 1, em tratamento com as várias administrações de insulina e que não conseguem um bom controlo da diabetes desenvolveram-se novas formas, tecnologicamente mais avançadas de administrar a insulina. São conhecidas como bombas infusoras de insulina e permitem que a insulina seja injetada de forma contínua durante as 24 horas com débitos diferentes de acordo com as necessidades do diabético. Há, em geral, uma melhoria significativa no tratamento da diabetes com redução das hipoglicemias e melhoria dos níveis da glicemia no sangue.
Em Portugal também temos, desde há vários anos, diabéticos tipo 1 em tratamento com bomba infusora. O problema português é o reduzido orçamento que o Ministério da Saúde atribui a este tratamento e que apenas permite o tratamento de um pequeno número de doentes.
Os avanços tecnológicos associados ao desenvolvimento das bombas infusoras de insulina têm continuado agora com o objetivo de se conseguir um pâncreas artificial mecânico. Com o pâncreas artificial pretende conseguir-se administrar a dose de insulina adequada, de forma mais automática e com uma intervenção mínima do diabético.
Existem já vários modelos de pâncreas artificial, com utilização restrita a pequenos grupos de diabéticos que cumprem as fases necessárias de pré lançamento. Os resultados obtidos são muito bons prevendo-se a sua comercialização em 2017-18.
Um outro desenvolvimento tecnológico importante para a diabetes tipo 1 e tipo 2, aconteceu com a possibilidade de se conseguir o registo da glicemia de forma contínua durante períodos muito prolongados (vários dias). Tem o nome de monitorização contínua da glicose e consegue-se com a colocação de um pequeno sensor no tecido celular subcutâneo. Quando o sensor é retirado, a informação recolhida pode ser visualizada no computador e é muito útil para se conhecer os períodos do dia ou da noite em que o diabético esteve ou não bem controlado, permitindo ao médico fazer um ajuste mais rigoroso do tratamento.
Recentemente, foi já comercializado, em alguns países da europa, um sensor também com colocação subcutânea e que permite obter o valor da glicemia naquele momento sem necessitar de “picar” o dedo. Para todos os tipos de diabéticos que são aconselhados a fazerem várias determinações diárias da glicemia, é sem dúvida um avanço importante, permitindo um melhor tratamento com significativa melhoria da qualidade de vida.
Podemos concluir que se vivem, em termos de inovação e progressos, tempos muito importantes no tratamento da diabetes. Igualmente importante vai ser a necessária intervenção do Ministério da Saúde na disponibilidade orçamental de comparticipação que permita aos diabéticos portugueses a utilização das inovações no tratamento diário.
Este tema vai estar em debate no Congresso Português de Endocrinologia 2016, um evento que decorre em simultâneo com a 67ª Reunião da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo e que promove o debate em torno de trabalhos desenvolvidos por profissionais da área. O Congresso decorre entre os dias 28 e 30 de janeiro, no Hotel Vila Galé, em Coimbra.
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