Opinião

Qual é a narrativa histórica que Marcelo quer que seja a oficial? A do regime democrático?

Tal como a verdade, em que não existe uma verdade, existe sim um discurso sobre a realidade, como dizia Aristóteles, e sendo os discursos ou as narrativas sobre a realidade, quase todos distintos e todos verdadeiros, dependentes das perspetivas de cada cientista, das suas ferramentas de análise, ou seja, da forma como olham a realidade poderemos afirmar ser difícil, senão impossível, conseguir uma unanimidade sobre a História de Portugal ou de qualquer outra forma de organização da sociedade

O Estado-novo teve tempo de revisitar a História de Portugal, de a narrar e ensinar baseada sobretudo no heroísmo pessoal dos seus intervenientes, criando mitos, tentando criar um espírito nacionalista, baseado na visão simplista de “Deus, Pátria, Autoridade, e Família” , sendo que o conceito de pátria, muito próprio do regime, não podia sequer ter discussão.

A narrativa do Estado-novo foi questionada após o 25 de Abril pelos Historiadores Marxistas, que analisam a história através da sua ferramenta ou óculo, ou seja, estudando-a pela perspetiva da luta de classes, sendo esta para eles o motor de toda a História.

Por sua vez, os cientistas políticos de relações internacionais analisam a história e a realidade através de três óculos distintos, o da teoria realista, da liberal e da simbiose entre as duas, ou seja, a do construtivismo, sendo qualquer delas aceitável.

Enfim, há vários discursos sobre a realidade, sendo todos eles legítimos, dependendo da ferramenta usada, do método de análise que se use para analisar a História, sendo todos eles verdadeiros, embora espelham uma narrativa diferente da realidade, da verdade.

Como conclusão gostaria de questionar, qual desses distintos discursos sobre a realidade, quer o Senhor Presidente Marcelo Rebelo de Sousa que adotemos como doutrina histórica oficial em democracia?

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva