Sendo os portugueses um povo em que existe muita pobreza, aonde a média salarial é muito
baixa, comparada com a média salarial europeia, é compreensível que a cultura dita erudita,
não seja uma das prioridades da população, facto que agravou muito a pouca oferta que, já de
si existe normalmente nesse sector, também se comparada com a oferta existente na maioria
dos países europeus.
A pandemia e os diversos estados de emergência sucessivos que têm redundado em
confinamentos compulsivos da população, têm infelizmente tido consequências nefastas,
quiçá letais, para este sector de atividade que, mesmo numa situação normal, não tem
infelizmente muita procura, sendo um sector nicho com um número muito muito limitado e
muito restrito de consumidores.
Os editores e livreiros, sector ainda assim com maior consumo relativo em Portugal, se
comparado com outros sectores de atividade cultural, com a incompreensível proibição de se
venderem livros, mesmo nos supermercados e, com o fecho compulsivo das livrarias que só
neste novo estado de emergência foram finalmente autorizadas a abrir, agravaram
substancialmente a situação, já de si deficitária do sector livreiro, prejudicando sobretudo os
nossos autores, já de si aqueles que normalmente menos auferem na cadeia acrescentada de
valor do mesmo, facto que é lamentável.
A continuação da proibição de abertura de galerias de arte, sector de um nicho tão pequeno
de consumidores, que se debate sempre com graves dificuldades, é um sinal que, só entendo
como uma punição aos galeristas e aos criadores portugueses, pois numa galeria de arte,
normalmente e infelizmente, nunca há, nem mesmo nas “vernissages“, aglomeração de
espécie alguma de pessoal, chegando a haver dias sem a presença de nenhum cliente nem
mesmo de um ocasional “voyeur” .
Para além dos dois setores de atividade suprarreferidos, considero ainda um erro-crasso,
terem-se fechado bibliotecas e sobretudo arquivos, que nunca recebem um número
significativo de utentes que justifique o seu encerramento devido à pandemia, ambos
essenciais à formação cultural dos cidadãos, e sobretudo à investigação científica em diversas
áreas do conhecimento que, já de si é uma atividade exígua em Portugal, mas fundamental
para o desenvolvimento deste nosso, infelizmente, subdesenvolvido país.
Em minha opinião, fechar este tipo de estabelecimentos, já de si confinados normalmente, não
faz sentido, é um “non sense” completo que só contribui para agravar o já de si normal
déficit cultural da população portuguesa.
Como diria o diácono Remédios, não “habia nexexidade“.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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